terça-feira, 2 de outubro de 2012

Maridos abusivos: o que os torna agressivos







Um novo estudo da pesquisadora Julianna Nemeth, da Universidade Estadual de Ohio (EUA), mostrou o principal fator que instiga os homens a abusar violentamente das mulheres.
Ao analisar conversas telefônicas entre presos condenados por abuso e suas mulheres e/ou esposas, os cientistas tiveram uma visão inédita e direta dos casais envolvidos em casos de violência doméstica, sem depender de analisar o que eles falaram para a polícia, advogados, prestadores de cuidados de saúde, etc.
17 casais heterossexuais, em que o homem foi detido em um presídio no estado de Washington (EUA) por crime de violência contra o parceiro íntimo, foram estudados. As vítimas tinham sofrido ferimentos graves durante os ataques, incluindo traumatismo craniano grave, necessidade de internação hospitalar, mordidas, estrangulamento e até gravidez perdida. Os casais sabiam que suas conversas telefônicas estavam sendo gravadas.
O que os pesquisadores descobriram foi um fator comum a quase todos os eventos violentos: a acusação de infidelidade. “O que estávamos procurando era o precursor imediato – o que aconteceu imediatamente antes da violência, o catalisador da violência”, disse Nemeth. “Os resultados me chocaram. Nunca soubemos que era a acusação de infidelidade que tendia a desencadear a violência”.
Os cientistas também descobriram uma variedade de outros estressores crônicos nas relações desses casais que podem ter contribuído para o abuso. Além da suspeita de infidelidade, presente em quase todos os relacionamentos, o uso de drogas e álcool também era um gatilho para a violência e um problema crônico.
Álcool ou drogas ajudaram a “piorar” o que começou como uma discussão, transformando-a em violência grave. Muitos dos casais também discutiram necessidades de saúde mental, como depressão e preocupação com o suicídio. Aliás, estudos já provaram que há umaligação forte entre violência doméstica e saúde mental. As mulheres são drasticamente mais propensas a desenvolver distúrbios mentais em algum momento de suas vidas se tiverem sido vítimas de estupro, agressão sexual, perseguição, ou violência doméstica, entre eles depressão, transtorno bipolar, estresse pós-traumático, abuso de substâncias, ou ansiedade.

Papel da mulher x papel do homem

A ideia de uma mulher “trair o seu homem” é inaceitável para muitos maridos, já que nossa sociedade ainda contém muitos machismos, apesar da busca pela igualdade de gênero. Prova disso é que o homem que “pega” muitas mulheres é garanhão, e a mulher que “pega” muitos homens é galinha.
Sendo assim, os pesquisadores perceberam que uma das chaves para compreender essas relações violentas foi a extensão em que os casais aceitavam papéis de gênero heterossexuais tradicionais, muitas vezes justificados através da religião.
“É comum ouvir os casais discutirem como as mulheres devem se casar e ter filhos, e como os homens devem ser fortes e estar no controle”, disse Amy Bonomi, coautora do estudo. “Os homens tendem a usar esses papéis tradicionais de gênero para justificar o uso da violência”.
Por exemplo, um preso justificou o estupro de sua mulher “porque ela queria ser mãe de qualquer maneira”. 5 dos 17 casais falaram sobre violência grave durante a gravidez e duas mulheres discutiram uma gravidez perdida como resultado da violência.
Em cerca de metade dos casais que tinham aceitado claramente papéis tradicionais de gênero, a religião distorcida foi usada como justificativa. Em um caso, o agressor disse à sua vítima que seu ataque foi para “limpar sua alma”.
Os resultados do estudo devem levar a mudanças e novas estratégias para os defensores das vítimas e outros profissionais de saúde mental. Defensores de vítimas de abuso doméstico muitas vezes preparam planos de segurança para determinar quanto perigo uma mulher corre e o que ela pode fazer para se proteger. Perguntar especificamente sobre ciúmes e infidelidade sexual pode ser importante. “Se é uma questão que os casais estão discutindo, é uma bandeira vermelha de que o relacionamento pode ser volátil”, diz Nemeth.
A pesquisa também sugere que deveríamos prestar atenção nas pessoas com problemas de drogas e álcool e de saúde mental para sinais de violência doméstica, uma vez que todas estas questões podem ser relacionadas.
Além disso, um remédio pode surgir em breve, já que um estudo da Universidade do Sudeste da Califórnia (EUA) fez um avanço significativo no desenvolvimento de drogas que diminuem a agressão patológica, um componente muito comum em distúrbios psicológicos.[MedicalXpress]

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